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15 de out. de 2011

Tocando do outro lado do mundo

por Alexandre Cunha

A primeira pergunta que me fazem é: “como você foi parar lá”?
Em setembro de 2008 realizei um grande sonho de minha vida, que era tocar em um festival internacional de jazz. Não poderia ter sido em algum lugar mais distante: foi na China! Mais especificamente em Xangai. Tocamos para uma platéia de aproximadamente quatro mil pessoas, em um parque lindo, um super palco com telão e tudo, e ao lado de grandes grupos, como o Incognito. Como já disse, foi um sonho que se realizou. É onde todo músico gostaria de estar algum dia: em um grande festival, mostrando seu trabalho mundialmente. E o mais legal, para mim, foi ir ao festival como “Alexandre Cunha e Banda”, e não acompanhando alguém.

Então voltemos à pergunta inicial: como fui parar lá?
Há uma série de fatores. Quando lancei meu primeiro CD solo (“Batepapo”, de 2005) mandei-o para várias rádios de jazz ao redor do mundo, assim como para sites especializados que fazem críticas (reviews), tudo pesquisando via Internet. É interessante observar que os veículos de fora do Brasil respondem seu e-mail muito mais rápido (ou pelo menos respondem) do que os daqui... Dura realidade.

Dentre as rádios para as quais mandei o CD, uma delas, de Nova York, fez uma eleição dos dez melhores do ano e, para minha alegria, fui eleito dentre todos os CDs que a rádio recebeu em 2005. Os sites nos EUA para os quais mandei o CD também fizeram críticas maravilhosas, muito mais do que eu poderia imaginar.

Com todo este material, fui montando um “press kit” (é assim que eles chamam) e, também com a ajuda da Internet, mandando e-mail para quem poderia gostar de receber (e para quem eu gostaria que recebesse) meu material, e um destes foi o Festival de Jazz de Xangai.

O programador disse que ficou impressionado com minhas matérias e com o CD e me convidou para o evento. Rolaram alguns meses de negociações para acertar os vistos e tudo mais, mas conseguimos ir a banda inteira (um quarteto) para o festival.

O parque onde foi realizado o show é maravilhoso (entre no meu site, na sessão fotos, e vejam – www.alexandrecunha.mus.br). Ficamos em um Hotel em frente ao parque. Acredito que a China está aprendendo várias coisas e ainda cometendo alguns erros. Por exemplo, nós ficamos muito soltos, sem ninguém para dar assessoria, pois o programador do evento estava perdido de tanta coisa para fazer. Na nossa passagem de som só haviam roadies que não falavam inglês, não podiam ajudar em nada, e tinha um diretor de palco inglês (bem grosso, por sinal) que queria que passássemos o som em dez minutos (havia seis bandas por dia).

Um erro pelo qual nunca mais quero passar é que não conseguiram passar o som do piano (tinha um de cauda no palco) e soltaram o típico “na hora a gente arruma”. Nunca dá para arrumar na hora, e foi super estressante. Estávamos todos no palco, prontos para começar, e não conseguíamos colocar o piano no monitor. E quatro mil pessoas olhando. Conclusão: fomos só de teclado, e isso já nos estressou bastante.

Foi longe de ter sido nosso melhor show. Quando estávamos nos sentindo mais confortáveis, acabou a energia! Sim, em um festival como esse pode acabar a energia. E para piorar, quando voltou, o pedal do teclado estava com a polaridade invertida e não funcionando bem, e tivemos de parar a música pela segunda vez. E o pior é que ninguém sabia o que estava acontecendo. Ou pior, ninguém entendia.

Refeitos do segundo apagão, nos sentimos mais à vontade e relaxamos, ficando bem mais confortáveis na última música, que é um samba de gafieira. Pedi para a platéia levantar e dançar um clássico samba do Brasil. Eles foram levantando aos poucos e, no final, estavam todos em pé dançando, até no solo de bateria. Foi super emocionante.

Depois da apresentação, fomos para o Jz Club, o clube de jazz que promove o festival, e todos vieram nos cumprimentar e elogiar pelo show. Foi muito legal mesmo.

Falando em clube de jazz, o Jz tem muito cara de clube de jazz europeu, é só um pouco mais barulhento (na Europa se faz mais silêncio quando a banda toca). Mas é muito bonito, com um palco legal, piano e bateria da casa e aquele clima de jazz club. Demos canja todos os dias que estivemos lá e, três dias depois do festival, fomos fazer nosso próprio show. Estávamos muito mais à vontade, mais em casa, e tocamos tranqüilos. Várias pessoas nos disseram que vieram por nos ter visto no festival, o que também foi muito legal.

Dois dias depois fomos tocar em uma cidade “pequena” ao lado, Hangzhou (10 milhões de habitantes). Lá também há um Jz Club, bem bonito por sinal, localizado na parte turística da cidade, lembrando bem a lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. É um pouco mais “balada” e sentimos falta dos músicos que sempre estão no Jz de Xangai. O bar era bem barulhento. Acho que eles estão acostumados mais com piano e baixo acústicos, fazendo música de fundo, e nós queríamos fazer um show forte, com tudo que tínhamos ensaiado para esta turnê. No primeiro set o publico ficou meio longe, mas no segundo os conquistamos. Dava para perceber que todo mundo estava interagindo, curtindo, ouvindo e aplaudindo.
Quando acabou o segundo set, o dono do clube veio nos dar os parabéns e disse que queria nos ver no festival de Hangzhou, em 2009. Vamos ver no que dá.

Espero que tenha sido o primeiro de muitos festivais. É lógico que ter um festival internacional no release ajuda muito. O que quero deixar para vocês é um pouco desta experiência, que foi maravilhosa e com a qual sempre sonhei. Então batalhem pelos seus sonhos! No Brasil temos que estudar muito e ainda ser o próprio empresário, produtor, tradutor... Mas vale a pena! O momento mágico de estarmos no palco, tocando para uma multidão, foi único. É por isso que vale a pena ser músico!



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